sábado, 22 de setembro de 2007

Em busca de melhores condições

Acompanhei as matérias da diáspora brasileira na ZH desde o dia que pisei em terra natal, nesta ultima segunda-feira. Vinda diretamente da Inglaterra, lia os depoimentos já com saudades do velho mundo.
Realmente é enorme o número de imigrantes no exterior. Em Londres é possível encontrar brasileiros em cada esquina. Dizemos que é uma “praga”. Onde pisamos escutamos o português ou o “brasileiro”, como se referem os estrangeiros a nossa língua materna. Cada brasileiro que conheci tinha uma história e um motivo para estar ali. Alguns buscavam apenas o aprendizado da língua, outros a experiência de vida, outros a paixão por viajar e muitos buscavam melhores condições de vida, condições estas não encontradas na terra natal.
No mesmo dia em que eu li a ultima matéria da diáspora de brasileiros para a Austrália publicada nesta última quinta-feira, li também a matéria que mostrava a miséria do nosso país somando hoje 32 milhões de miseráveis ganhando abaixo de R$ 125 mensais, um valor equivalente a 32 Pounds por mês, o que hoje se ganha com 4 horas de trabalho num pub londrino. E não é necessário ter a língua inglesa na ponta da língua. O numero de miseráveis do nosso país ultrapassa hoje a população da Austrália e da Nova Zelândia juntas. É assustador.
A maioria do povo brasileiro emigra buscando o emprego e o salário que não encontra aqui. Morar longe da família não é uma opção para estes brasileiros. E trabalhar no exterior e mandar dinheiro para a terra natal ajuda milhões de famílias brasileiras a saírem da linha da pobreza.
Discordo completamente no que li na entrevista da matéria sobre a diáspora de emigrantes de que quem paga o custo da emigração é o país natal. De forma alguma o país natal investiu anos de formação no sujeito que vai trabalhar fora. Pelo menos não deste sujeito que menciono aqui. A educação pública do nosso país esta longe de ser considerada um exemplo mundial e são pouquíssimos os brasileiros que tem o privilegio de estudar numa universidade federal. E com certeza são aqueles que não vão ao exterior em busca de ajuda financeira para sua família. Viver no exterior, para muitos, não é uma opção. E sim uma necessidade. É buscar o que o país natal não tem condições de oferecer. Eu conversei com gente que vive longe há anos, afastado da família, irmãos e filhos. Gente que esta ilegal, mas que se sujeita à saudade para sustentar as famílias no Brasil. Mesmo que o salário em relação à moeda local seja pouco, no exterior é possível ter um poder aquisitivo muito maior do que o que possuímos aqui. O brasileiro no exterior tem condições de compra, consegue em pouco tempo comprar o que deseja, sustentar-se e ainda enviar dinheiro para sua família. E com a diferença de câmbio em relação a nossa moeda se consegue comprar no Brasil o sonho que talvez, trabalhando aqui, nunca o teria alcançado.
Viver no exterior por opção é privilégio de poucos. E são pouquíssimos aqueles que tiveram a oportunidade de estudo e vão ao exterior para aprimorá-lo. Parte da diáspora brasileira de hoje é uma necessidade de muitos, quase uma luta pela sobrevivência. E pelo que acompanhei na mídia nos poucos dias em que estive aqui, a tendência é aumentar o número de emigrantes, já que a esperança de mudança para melhores condições de vida virou um sonho quase inalcançável no Brasil.

Um comentário:

Ariane Feijo disse...

Interessante ler esse teu texto depois de uma conversa que ficou na historia da minha vida em Londres no ultimo domingo. Eh triste reconhecer essa realidade. Ou o que um amigo chama de 'retrocolonizacao'. Sad but true, como diriam os ingleses. Muito bem colocado. Mas sera mesmo que nao ha nada que nos possamos fazer enquanto cidadaos brasileiros que estao absolutamente fora dessa linha de pobreza e miseria, que buscam em Londres nao libras mas conhecimento, diversidade, convivencia com outras culturas e habitos? Essa eh 'minha' pergunta que nao quer calar. beijos...