segunda-feira, 29 de outubro de 2007


Para um novo mundo, lá vou eu.

Quando os primeiros navegadores holandeses, portugueses e espanhóis avistaram a Austrália, a denominaram Terra Australis Incognita, nome oriundo do latim que significa “terra desconhecida do sul”. Geograficamente para o mundo a Austrália era um pai's invisível, uma vasta terra que estranhamente foi desconsiderada pelos cartógrafos sem nada que justificasse a sua ausência no mapa-múndi.
A Austrália faz parte do continente mais novo do mundo – a Oceania. Apesar de ser habitada por aborígenas há mais de 40 000 anos, somente há 2 séculos se iniciou a sua colonização por europeus. Hoje a Austrália é um dos maiores destinos de imigrantes, 23,1% da sua população é formada por estrangeiros, entre eles, os brasileiros.
Mas o que faz da Austrália, lá no “fim do mundo”, ser um lugar tão procurado para viver?
“A Austrália é o paraíso”, escutei de muitos que visitaram o país. “É o mundo perfeito” ou “o Brasil que deu certo”. Lá tudo é bom, tudo funciona. Abundancia de natureza com praias maravilhosas, parques e reservas naturais, apesar de boa parte do país ser desértico. Oportunidades, educação e uma economia estável fazem da Austrália um país seguro para se viver. Um país de pessoas felizes e que amam o esporte.
Mas é longe. Bom, algo ruim tinha que ter. São quase 17h de vôo e 12h a mais de fuso horário. Dizem que no aeroporto de Sydney todos parecem bêbados, chegam cansados de voar e tontos com o fuso horário. Demoram de 2 a 3 dias para se recuperarem do “transe” e entrarem normalmente no fuso do país.
Nunca me imaginei na Austrália, nem passava pela minha cabeça sequer visitar o país. Minha escolha foi amadurecendo e agora estou a poucos dias do portão de embarque. Quem diria!
Com certeza será mais uma experiência incrível na minha vida e estou entusiasmada com a viagem. Chegou a hora de mudar de novo, de conhecer o outro lado do mundo. Recomeçar mais uma vez. Seguir em frente ou como dizem os australianos: go for your life.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Insegurança 24hrs

Semana passada eu li um texto escrito por uma celebridade da televisão brasileira, que possui sua coluna no jornal Folha de São Paulo. O autor descreve o assalto que sofreu logo após o almoço nos Jardins, um bairro de classe alta da maior cidade do nosso país.
Dois motoqueiros apontaram uma arma na sua cabeça e o obrigaram a entregar o relógio. Indignado com a situação e sem se conformar com o ocorrido, o apresentador de TV cita o caso dele com muita revolta, talvez por ter sido o primeiro assalto sofrido e num dos bairros mais chiques de São Paulo, em plena luz do dia.
A violência está hoje em todos os lugares no Brasil. Não precisa estar próximo da favela ou em locais suspeitos para sofrermos um assalto. A violência não escolhe mais o dia da semana, a hora para acontecer ou quem irá atacar. A verdade é que muitos de nós, classe média alta, vivemos numa redoma de vidro, protegidos porém sem liberdade. Um dia essa redoma se quebra e nos deparamos com o terror que até então passava distante de nós.
No Brasil, apesar de nunca ter sido assaltada, vivo 24 horas insegura. Quando eu cheguei esse sentimento era bem maior. Estava com medo de, no caminho do aeroporto para casa, roubarem minhas malas e levarem meu laptop.
É que quando a gente vive num país mais desenvolvido a gente aprende a perder o medo, a andar seguro nas ruas, a caminhar tranqüilo. Parece que aos poucos aquele sentimento de insegurança vai diminuindo e vamos nos acostumando com uma nova realidade, uma realidade sem a sensação de medo.
Voltar a pisar no Brasil e sentir medo é revoltante. Mas agora, depois de três semanas aqui, parece que eu já me acostumei de novo com a situação do país. E é assim que vejo amigos e família vivendo no Brasil. Quase que acostumados e conformados com o sentimento de insegurança. Alguns não têm nem idéia como é viver sem, não têm opção de escolha, não conhecem o outro lado. Já outros nem querem conhecer.
Neste final de semana assisti Tropa de Elite, o famoso filme brasileiro que mostra o caos e a corrupção do nosso sistema público e julga a classe média alta da sociedade como financiador do tráfico de drogas. O filme mostra cenas violentas de situações reais em uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. Assistir Tropa de Elite me fez dormir pensando: “O quanto vale viver num país assim?”, ou melhor, “Como ser feliz num país assim?”
Eu converso com amigos e vejo que a sociedade jovem de hoje, aquela que tem condições de melhorar a situação, nada faz para ajudar. Somos individualistas. O problema é tão complexo que a gente já desiste antes mesmo de tentar resolver, mas também não faz nada para amenizar. Culpar o governo é mais fácil. Eu, infelizmente, sou mais uma dessas pessoas que desistiu antes de começar. Confesso que me sinto culpada às vezes por não tentar ajudar a mudar. Pra mim restou apenas a pergunta: Para onde fugir?
Fui questionada várias vezes pela escolha que tomei: morar em outro país. Deixar família e amigos pra trás não é fácil. Mas não é fácil morar no Brasil também. Eu coloquei na balança e pesei o que realmente tem valor pra mim. A família e os amigos são insubstituíveis, sempre serão. Mas um dia quero casar e ter filhos, ter a minha família que será insubstituível pra mim também. Eu não quero dar chance ao azar e perder um filho ou marido num assalto. Também não me submeto a viver numa redoma de vidro, sem liberdade.
Uma arma apontada na cabeça deve dar um medo imensurável. Você fica na mão de um assaltante que, a qualquer momento, pode apertar o gatilho e fim. Acaba tudo em segundos.
O apresentador de TV que citei no início deste texto levou o susto que muitos, milhões levam ou levarão um dia;
tinha a vida dele nas mãos de dois motoqueiros. Ele imaginou sua jovem mulher ficar viúva e seus filhos órfãos. Agora ele é mais um que faz parte da estatística. Deu sorte, ele perdeu um Rolex. Tem gente que perde a vida.

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Numa das cenas mais chocantes do filme Tropa de Elite, capitão Nascimento, após comandar uma ação que resulta na morte de um traficante, esfrega o rosto de um estudante, que estava na favela consumindo drogas, em cima do sangue que sai do buraco aberto pela bala no peito do jovem morto e pergunta se ele sabia quem havia matado o rapaz. O estudante diz que foi um dos policiais do BOPE, ao que Nascimento responde:
“Um de vocês é o caralho! Quem matou esse cara aqui foi você. Seu viado, seu maconheiro, é você quem financia essa merda. A gente sobe aqui pra desfazer a merda que vocês fazem”