Uma vez uma grande amiga me perguntou porque eu acessava o site da Zero Hora. Eu disse: "Para ver as noticias da nossa cidade" e ela respondeu: "Para ver violencia, tu quer dizer?"
Ainda tenho a esperanca de um dia acessar a Zero Hora e nao encontrar noticias de violencia. Sonho no dia em que a manchete sera: "Violencia diminui na capital".
Hoje, como de costume, acessei Zero Hora digital. A materia "Dicas para evitar o roubo de carros" me despertou curiosidade. Quais seriam as dicas? Ou melhor, quais seriam as novas dicas, pois ja sabemos ha tempo como evitar a violencia... sabemos como nos comportar nas sinaleiras, cuidar onde estacionar, cuidar ao abrir o carro... ate lidar com flanelinhas aprendemos. Seriam entao novas dicas para evitar uma nova violencia?
Acessei o infografico que ilustrava as dicas de seguranca. Espantoso. Se eu fosse Australiana eu jamais andaria de carro no Brasil. Nao tem um segundo em que o motorista pode dirigir tranquilo em Porto Alegre. E' necessario estar alerta 100% do tempo. Vacilou por um segundo e ja era! A todo momento, desde a retirada do carro da garagem, ate o estacionamento e' preciso "ficar ligado". E mesmo depois de estacionado o carro existe uma preocupacao, ja que nao se sabe, quando voltar, se o carro ainda estara no mesmo lugar em que o deixamos.
Agora me pergunto: como viver assim? E mais uma vez encontro a resposta: nos acostumamos. No Brasil nos acostumamos a viver em alerta 24hrs por dia.
Em Porto Alegre eu vivia em alerta. Isso e' cansativo. Mas tambem nunca fui assaltada. Nem mesmo em casa, trancada, eu descansava. A ideia de que alguem pudesse entrar pela porta dos fundos, pela garagem ou pelo muro do vizinho me deixava estressada. E com medo.
O alerta constante fazia parte de mim ate' chegar a Londres. Apesar de ser uma cidade onde tambem ha' violencia (como em qualquer outra cidade do mundo) nao e' como no Brasil. Aos poucos eu fui relaxando, mas o "botao do alerta" estava la', escondido, quietinho.
Em Sydney este botao esta comecando a desaparecer. A porta do apto onde moro tem apenas uma tranca (e bem simples) e ha pouco tempo deixavamos a chave debaixo do tapete da entrada. As bicicletas ficam na frente do apto e o predio e' aberto, sem seguranca ou porteiro.
Sydney me passa uma tranquilidade dificil de encontrar nas grandes cidades do primeiro mundo. Aqui me tornei uma pessoa mais calma e relaxada, menos estressada.
Um dia, quem sabe, meu sonho se realize e eu acesse a Zero Hora digital e nao encontre nenhuma noticia de violencia. Quem sabe neste dia eu volto de vez para Porto Alegre.