quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Rico é aquele que é pobre de necessidade

Lendo o livro A cura de Schopenhauer de Irvin Yalom comecei a me questionar mais sobre o que considero essencial na minha vida. Seria muito cedo para isso? :-)
O livro traz relatos de um dos maiores filosofos que o mundo ja conheceu, Arthur Schopenhauer. Segundo ele a salvacao para o sofrimento humano e' renunciar ao mundo, tonando-se assim livre. Para Schopenhauer o sofrimento e' causado por apegos (a coisas, ideias, pessoas e a propria vida!)
Recentemente perdi uma bagagem durante as ferias na Grecia e fiquei muito chateada, mais do que eu imaginava. Ali tinham pertences importantes para mim, coisas que havia perdido tempo para escolher e pensado duas vezes antes de abrir a carteira. Mas eram coisas materiais... no final eu estava ali, inteira, viva, cheia de energia e saude. Minha vida vale muito mais que infinitas bagagens iguais a minha.
Escutei amigos dizendo que nao morariam no exterior porque sao muito apegados a familia. Acabo sempre batendo na tecla que se refere a morar fora do Brasil, claro, a situacao em que me encontro atualmente. Sera esse apego uma forma de amor, ou apenas um sentimento de posse? O quanto sera que vale se desapegar de alguem em busca dos nossos desejos?
Pesquisando na internet encontrei o seguinte texto sobre apego:

O apego está relacionado ao agarrar-se. Agarrar algo é um ato superficial, não existencial. Todos nós somos apegados à alguma coisa, entretanto sabemos o quanto sofremos quando temos que abrir mão daquilo que estamos apegados. Saiba que o apego limita nossos verdadeiros desejos. Quando estamos apegados somos mesquinhos e egoístas e não estamos seguindo o fluxo da natureza.
A natureza é desapegada. Por exemplo, quando um pássaro bota um ovo, a mãe está presente até o momento em que seu filhote nasce, cresce e fica forte. Depois, o pequeno pássaro vai buscar o seu próprio caminho. A mãe não se apega ao filhote que agora já é um adulto.


Quando meu pai se aproximou da morte ele passou a valorizar mais as essencias da vida. Faleceu aos 42 anos.
Somente quando estamos proximos do final e' que nos damos conta de tudo que poderiamos ter valorizado antes... o canto de um passaro, as arvores, o sol... tudo na natureza acaba ganhando um valor imensuravel que antes passava quase desapercebido... olhamos pra tras e nos questionamos se as escolhas foram certas e como teria sido se tivessemos escolhido algo diferente.
Nao podemos viver o passado novamente mas talvez esteja muito tarde para viver o futuro. Sera' que nao estamos perdendo nosso tempo apegados as coisas superficiais?
Afinal, o que e' essencial na nossa vida?

Um comentário:

Anônimo disse...

Ine querida,
Que possamos curtir a nossa vida com muito entusiasmo... ela é o maior presente que temos e é maravilhosa.... que possamos sempre fazer valer o nosso dia!!! Te adoro,
Bjos,
Pati

Segue a crônica " Antes do dia partir..." de Martha Medeiros

O que valeu a pena hoje?
Sempre tem alguma coisa. Um telefonema. Um filme...
Paulo Mendes Campos, em uma de suas crônicas reunidas no livro "O Amor
Acaba", diz que devemos nos empenhar em não deixar o dia partir inutilmente.
Eu tenho, há anos, isso como lema.
É pieguice, mas antes de dormir, quando o dia que passou está dando o prefixo e saindo do ar, eu penso: o que valeu a pena hoje? Sempre tem alguma coisa.
Uma proposta de trabalho. Um telefonema. Um filme. Um corte de cabelo que deu certo.
Até uma briga pode ter sido útil, caso tenha iluminado o que andava escuro dentro da gente.
Já para algumas pessoas, ganhar o dia é ganhar mesmo: ganhar um aumento, ganhar na loteria, ganhar um pedido de casamento, ganhar
uma licitação, ganhar uma partida.
Mas para quem valoriza apenas as megavitórias, sobram centenas de outros dias em que, aparentemente, nada acontece, e geralmente são essas pessoas que vivem dizendo que a vida não é boa, e seguem cultivando sua angústia existencial com carinho e uísque, mesmo já tendo seu superapartamento, sua
bela esposa, seu carro do ano e um salário aditivado.
Nas últimas semanas, meus dias foram salvos por detalhes.
Uma segunda-feira valeu por um programa de rádio que fez um tributo aos Beatles e que me arrepiou, me transportou para uma época legal da vida, me fez querer dividir aquele momento com pessoas que são importantes pra mim.
Na terça, meu dia não foi em vão porque uma pessoa que amo muito recebeu um diagnóstico positivo de uma doença que poderia ser mais séria.
Na quarta, o dia foi ganho porque o aluno de uma escola me pediu para tirar uma foto com ele.
Na quinta, uma amiga que eu não via há meses ligou me convidando para almoçar.
Na sexta, o dia não partiu inutilmente, só por causa de um cachorro-quente.
E assim correm os dias, presenteando a gente com uma música, um crepúsculo,
um instante especial que acaba compensando 24 horas banais.
Claro que tem dias que não servem pra nada, dias em que ninguém nos surpreende, o trabalho não rende e as horas se arrastam melancólicas, sem falar naqueles dias em que tudo dá errado: batemos o carro, perdemos um cliente e o encontro da noite é desmarcado.
Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar um dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica.
É muita condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de amanhã...